
Na última \”entrada\” deste diário, o Argo era um recém-chegado, com pouco mais de 1 mil km rodados. Agora, a situação começa a mudar: com mais de 2 mil km rodados e quase 6 meses de uso (sim, continuo rodando pouco por causa da pandemia), a relação está mais próxima.
Vencida a recomendação, presente no manual, de não expor o carro a situações extremas nos primeiros 1.600 km, foi possível explorar outros tipos de condução, como dar aquela \”esticadinha\” nas marchas e colocar à prova o desempenho do aventureiro em uma estrada de terra, algo há muito tempo questionado por mim, uma vez que as avaliações feitas nesse cenário raramente simulam condições reais de uso. E a escolha do Trekking foi justamente para utilizá-lo nesse terreno, uma vez que preciso encará-lo algumas vezes no ano. E aí, como será que ele se saiu?

Não é Sporting…
No post anterior, eu falei que sentia pouca falta do motor 1.6 16V E.torQ do meu antigo Palio Sporting. A afirmação continua verdadeira, mas agora com ressalvas. De fato, conduzindo ambos os modelos de modo \”calmo\”, sem exigir tanto desempenho, os conjuntos se equivalem — e o competente Firefly 1.3 se sobressai por não cobrar a conta em termos de consumo de combustível e emissão de poluentes.
No entanto, agora que pude extrair mais do Argo, ultrapassando as 3 mil rotações, foi possível notar uma certa morosidade do motor menor — o que, diga-se de passagem, já era esperado. Nos momentos em que se exige uma retomada mais vigorosa, é preciso pisar mais no pedal do Argo e mesmo assim a resposta não é ágil. O motor parece demorar a encontrar o seu torque, uma vez que ele não é tão maior acima dos 3 mil giros — ter uma disponibilidade de torque mais linear tem, portanto, seus altos e baixos. Além disso, as trocas de marcha são mais demoradas, cortando um pouco da diversão do câmbio da linha Sporting.
Mas o maior incômodo é algo que eu já tinha comentado no episódio 5: a programação da abertura da borboleta do pedal do acelerador, que não é tão progressiva, como no Palio, e segue a tendência de mercado, com abertura maior no início. Daí a necessidade de pisar fundo e ainda assim receber uma resposta morna.
Embora isso tudo seja um ponto negativo em relação ao Palio, como disse, já era esperado e não se trata de um demérito do motor 1.3 ou do carro como um todo. Em adição, isso vale para uma situação específica de condução, na estrada e buscando um desempenho mais esportivo.
Para quem não adota esse estilo de direção, e esse é o caso da maior parte do público, o conjunto do Argo é competente, confortável e ágil, especialmente nas situações urbanas, onde, aliás, eu o considero muito melhor. O motor E.torQ tem uma pequena anemia em baixas rotações, diferentemente do Firefly, que conta com maior fôlego ao subir uma ladeira, em arrancadas ou após passar uma lombada, por exemplo, pois segura bem o torque — e aqui está o ponto alto da oferta mais linear em relação ao motor 1.6.

…mas é Trekking
O Argo fez jus ao seu sobrenome e foi muito bem na primeira experiência \”fora de estrada\”, em viagem a Mairinque, no interior de São Paulo. É evidente que se trata de um carro aventureiro, sem qualquer tipo de recurso como tração integral, portanto, não dá para dizer que o Trekking é valente como um 4×4 ou um SUV de verdade — mas arrisco dizer que, em uma trilha um pouco mais radical, o hatch da Fiat se daria muito melhor que alguns dos famosos \”SUVs de shopping\” vistos por aí.
O percurso contemplou alguns quilômetros na rodovia Castelo Branco (com média de 14 km/l, abastecido com gasolina, a 110 km/h e com ar-condicionado ligado), um pequeno trecho urbano bastante sinuoso e, enfim, uma estrada de terra com muito pó, valetas e, em geral, um terreno moderadamente acidentado.
A altura do modelo em relação ao solo — que é de 210 mm, maior do que de muito \”SUV\” (o Chevrolet Tracker, por exemplo, tem apenas 157 mm) — lhe rendeu uma óbvia vantagem em relação aos carros que fizeram o mesmo percurso anteriormente (Palio Fire, Novo Palio, Palio Sporting, Argo Drive), enquanto a suspensão retrabalhada do aventureiro manteve o mesmo nível de conforto de rodagem visto em algumas ruas mais esburacadas. Por fim, os pneus de uso misto foram responsáveis por transmitir segurança, mantendo sempre uma boa aderência.
Aqui, vale destacar também o motor, que — com seu torque mais linear, como dito há pouco — fez bonito nas situações de \”off-road light\”, como chamaria a Fiat, quando se exige uma aceleração constante, mas em baixa velocidade, para que não se perca a tração nas rodas.
Outro destaque que fica em evidência nessa situação é o ótimo isolamento do Argo, tanto acústico quanto nas vedações de portas. Mesmo rodando em baixas rotações, com velocidade reduzida por conta do tipo de terreno, o nível de ruído na cabine é bastante baixo, e o Argo se mostra muito silencioso. Fora do carro, a poeira era grande, como mostram as fotos, mas as vedações a filtraram bem, de modo que a cabine não ficou tão suja. Ao abrir e fechar as portas, o pó acabou se dissipando — isso sim, influenciando na limpeza do lado de dentro. A maior surpresa foi com o porta-malas, que estava impecavelmente limpo, e no cofre do motor, que enfim perdeu o aspecto de novo, mas manteve a “dignidade”.

Resultado: o Argo Trekking foi o primeiro carro nesse trajeto, que já percorro com alguma frequência nos últimos anos, que não deu a famosa raspada em nenhum trecho do caminho, rodando com desenvoltura e passando uma boa sensação de robustez — ao mesmo tempo em que não desceu do salto, mantendo o mesmo conforto dos demais. O único modelo que enfrentou a mesma \”trilha\” com maior desenvoltura foi uma Fiat Toro, mas daí a comparação é no mínimo injusta.
Dito isso, o Trekking está mais do que aprovado nesse tipo de uso. Não é possível pegar uma trilha difícil, cheia de barro, mas é um carro capaz de dar conta do recado de dar um fora na estrada quando for preciso.

Computador de bordo
- Período: janeiro-maio de 2021.
- Distância total percorrida: 2.036 km.
- Velocidade média: 35 km/h.
- Consumo: 10,2 km/L (abastecido 70% do período com etanol e rodando sempre em circuito misto).
- Ocorrências: chave com barulho estranho (100 km).
Sobre o Diário de Bordo
Esta seção faz parte do conteúdo extra do Três e Meio, o podcast para quem gosta de carros da Fiat. Nela, acompanharemos os principais marcos da convivência de um Fiat Argo zero quilômetro com seu dono, relatando as experiências de compra, uso e manutenção do modelo.