5 fatos sobre o Fiat Uno, que completa 30 anos como o primeiro 1.0 do Brasil

O Fiat Uno Mille foi lançado após apenas um mês da medida do Governo Federal que abatia o IPI de carros 1.0 — foi o primeiro do país. (Fiat/Divulgação)

O Fiat Uno é um carro mítico no Brasil. Já ganhou inúmeras versões — da Fiat e dos brasileiros, que transformaram o hatch em um dos carros mais queridos do país. Para isso, foi fundamental o lançamento, em setembro de 1990, do Uno Mille, a versão 1.0 do carro, considerado o primeiro 1.0 do Brasil.

De lá para cá, muitas coisas mudaram nesses 30 anos de jornada do Uno. Mas uma coisa é fato: o seu DNA de pioneirismo foi essencial para que o modelo se mantivesse vivo na cultura automotiva brasileira por tantos anos. De alguma maneira, ele viu o seu sucessor, o Palio, um carro muito mais moderno, sair de linha antes mesmo dele, virou meme na internet pela fama de supersportivo e permanece como um dos carros mais acessíveis do país, seja zero quilômetro ou usado, seja pela manutenção em conta ou pelo baixo consumo.

Bem diferente do Uno Mille, o Uno 1.6R logo também se tornou memorável, ajudando a compor a imagem mítica do modelo no Brasil. (Fiat/Divulgação)

A seguir, você confere 5 fatos sobre o carro que inaugurou o segmento de carro popular e tem muita história para contar!

1. O Uno foi apresentado em 1983, lançado em 1984 no Brasil e só despontou como best-seller nos anos 1990

Hoje, quem vê a trajetória do Uno pode pensar que ela foi feita apenas de sucessos. Mas não é bem assim… O hatch foi lançado em agosto de 1984 com dois motores: o de 1.050 cilindradas do 147 e o 1.3 de 57 cv. O primeiro não agradou e logo saiu de linha. Só que, em agosto de 1990, o governo anunciou que carros com motores de até 1.000 cilindradas teriam a alíquota de IPI ajustada para 20% — metade da taxa de 40%, destinada a motores entre 800 e 1.000 cm³ até então, deixando-os mais baratos do que os de 1.000 e 1.500 cilindradas, que pagavam 35% de IPI. A Fiat foi rápida: trocou o virabrequim e adotou novos carburador e comando de válvulas, trazendo de volta o motor descartado no Brasil, mas que continuava em produção para outros mercados. Assim, um mês depois do anúncio, em setembro de 1990, chegava às lojas o Uno Mille — também com muitas economias em equipamentos de série. E foi assim que ele colocou a Fiat no mapa, com um volume de vendas bem maior do que ela tinha anteriormente.

Pelado, o Uno Mille vinha com o básico do básico — retrovisor do lado direito era, logo, considerado luxo. (Fiat/Divulgação)

2. O Uno europeu era diferente do nosso e, hoje, ocuparia um lugar semelhante ao do Fiat Punto

O Fiat Uno foi apresentado em janeiro de 1983, resgatando o nome de um modelo dos primórdios da Fiat, o Tipo 1, de 1910. Agora, ele entrava em cena para substituir o 127, um carro que serviu de base para o nosso 147. Entre as inovações do Uno, além do seu design estilo caixa, estavam o motor na posição transversal — que seu rival brasileiro, o Gol, só adotaria em 2008 — e o eixo traseiro semi-independente. Alguns meses depois do lançamento, a Fiat introduziu, na Europa, a versão Selecta, com câmbio CVT. E em 1985, outra novidade, esta que logo chegaria ao Brasil: os motores da nova família Fire, considerados muito inovadores à época, pois foram os primeiros de produção totalmente robotizada. Mas se engana quem pensa que nós não mandamos nada para a Europa: o Uno Mille foi exportado do Brasil para lá como Uno Trend e as derivações sedã e station wagon, Prêmio e Elba, também foram vendidos na Itália, mas como Duna e Duna Weekend.

Repare no vinco do capô: está aí uma grande diferença do Uno italiano, que ainda receberia um facelift inédito no Brasil. (Fiat/Divulgação)

3. Foram 30 anos desde o lançamento até a aposentadoria, que ocorreu 3 anos após a chegada da segunda geração

O Uno foi apresentado em Cabo Canaveral, uma base militar que fica na Flórida, Estados Unidos. O local foi escolhido a dedo: a base aérea tinha como foco desenvolver tecnologia para a corrida armamentista em busca da conquista do espaço. Logo, a associação esperada era de que o hatch era igualmente avançado, tal como o que se desenvolvia lá. Desenhado — assim como seu irmão menor, o Panda — pelo badalado Giorgetto Giugiaro, o Uno continuou em produção até 1995 na Europa, convivendo dois anos com o Punto de 1993, e ganhou uma série de versões, motores e facelifts, tanto por lá como por aqui. O seu projeto moderno, no entanto, lhe rendeu uma boa sobrevida aqui no Brasil: em 2003, ele ganhou um facelift e permaneceu no mercado até 2013, quando se despediu com a série especial Grazie Mille.

Com a obrigatoriedade de freios ABS e airbag duplo, a partir de janeiro de 2014, a Fiat optou por tirar de linha seu modelo veterano. Grazie, Mille, e bom descanso após quase 30 anos de labuta! (Fiat/Divulgação)

4. As duas gerações do Uno introduziram inovações significativas: motor 1.0, motor turbo, ar-condicionado, computador de bordo, start&stop, \”câmbio de Ferrari\”…

Se hoje temos tecnologias importantes no nosso mercado, algumas bem populares, isso teve a ajuda do Uno. Desde coisas mais simples, como o próprio motor transversal, até itens mais luxuosos deram as caras primeiro no Uno, ainda mais entre os carros populares. É o caso, por exemplo, do ar-condicionado: hoje item \”obrigatório\”, no Brasil foi oferecido pela primeira vez em um carro de entrada graças ao Uno. O primeiro modelo a trazer computador de bordo no país foi o Prêmio, sedã derivado do Uno lançado em 1985, sendo que o hatch logo também recebeu o equipamento. O hatch também foi o primeiro de sua categoria a trazer um motor turbo de fábrica quando isso estava longe de ser tendência como é hoje. A segunda geração continuou o legado: em 2014, foi o primeiro carro fabricado no Brasil a oferecer Start&Stop. Na ocasião, também foi equipado com o câmbio Dualogic acionado por botões, que a Fiat logo tratou de vender como \”semelhante\” ao usado pela Ferrari.

Câmbio de Ferrari, rádio de Jeep e instrumentos de 500: o Uno ainda tem os seus charmes 😀 (Fiat/Divulgação)

5. O futuro do Uno é incerto… Mas ele voltou a vender bem!

No Três e Meio, já falamos como ninguém sabe qual será o futuro do Uno. Suas vendas despencaram nos últimos anos e ele ficou espremido entre Mobi e Argo, perdendo relevância. O público o vê como um carro de entrada, como ele quase sempre foi no Brasil, mas a Fiat o dotou de requinte e equipamentos considerados de uma categoria superior. Isso encareceu o Uno, que já não tem o porte a seu favor para brigar com modelos maiores, como Onix Joy, Volkswagen Gol e Ford Ka. Por isso, não está claro se o modelo ganhará uma nova geração — como era provável antes da pandemia — ou se será atualizado mais uma vez para ganhar tempo no mercado. Outra possibilidade seria sair de linha já neste ano, o que parecia bem provável até pouco tempo atrás. Isso porque nos últimos meses, o modelo voltou a viver bons momentos de mercado: marcou presença no top 20 e emplacou mais de 1.500 unidades mensais, beirando os 2 mil emplacamentos. Será que esse novo ânimo garantirá mais 30 anos?

O Uno não deixou de inovar: estreou a nova geração de motores globais da Fiat, trouxe equipamentos como ESP, hill holder e Start&Stop e continua sendo referência em acabamento. Mas deixou de vender. Será que ainda há espaço para ele? (Fiat/Divulgação)

Abaixo, você pode ouvir o episódio do Três e Meio sobre o futuro do Uno, no qual há uma discussão aprofundada sobre os problemas que o modelo enfrenta. Na segunda parte, o episódio 8, falamos sobre o possível futuro do carro, também vale ouvir. E, se quiser receber mais conteúdo como este, não deixe de se inscrever na newsletter do podcast, é só clicar aqui.