
A esse ponto, não deve ser segredo para ninguém que a Fiat Chrysler Automobiles (FCA) prepara uma expansão da gama Fiat com base em SUV destinados aos mercados da América Latina. Essa história ganhou contornos oficiais em 2018, mas já era precedida de rumores antes disso.
Em junho de 2018, aconteceu o Capital Markets Day, quando o então CEO do grupo, Sergio Marchionne, fez a sua última apresentação sob o comando da companhia — ele viria a falecer algumas semanas depois, em 25 de junho. A pompa do evento foi reservada, como não poderia deixar de ser, às marcas Jeep e RAM, protagonistas da ascensão da demanda global por SUVs e picapes, e em segundo plano, Alfa Romeo e Maserati. A Fiat foi bastante ofuscada durante a apresentação do plano, o que levantou rumores sobre a morte da marca, que já vinham se propagando há algum tempo.

No entanto, Marchionne — apesar de sugerir que a marca poderia assumir um papel mais regional, como é o da Chrysler e o da Dodge nos Estados Unidos ou o da Lancia na Itália — confirmou o desenvolvimento de três utilitários para a Fiat, um do segmento A, outro do segmento B e outro do segmento D, com sete lugares. Desde então, muitas especulações foram feitas sobre os carros. Mas o que de fato sabemos sobre eles?
➡️ Ouça aqui uma atualização deste post com informações mais recentes sobre os SUVs da Fiat:

1. O plano inicial foi modificado
Sim, porque como eu disse, a ideia inicial seria ter três SUVs, mas esse plano parece ter ido por água abaixo. O atual presidente da FCA Latam, Antonio Filosa, já confirmou que a Fiat lançará, sim, SUVs, mas serão dois. Atualmente, é consenso na imprensa que esses carros seriam os do segmento A (compacto) e do segmento B (médio-compacto) propostos no plano de 2018. Portanto, o SUV maior de sete lugares estaria cancelado — na verdade, é provável que ele tenha sido remanejado para a Jeep.

2. Não se sabe quais serão as plataformas
Na verdade, é certeza que o SUV compacto será derivado da plataforma MP, que já deu origem ao Argo e ao Cronos. Quanto ao SUV maior, há duas vertentes: sites como o Autos Segredos apostam que a plataforma MP também será usada no B-SUV, enquanto outras publicações sugerem que ele usaria a plataforma da Toro — a mesma do Fiat 500X e dos Jeep Renegade e Compass, que remonta à do Alfa Romeo Giulietta com várias modificações.

A confusão se instaurou por conta do conceito Fastback, apresentado no Salão de São Paulo de 2018, que é claramente derivado da Toro. Muitas publicações defendem que o B-SUV será a versão de produção desse conceito, enquanto o Autos Segredos dá a entender que será um SUV cupê, só que menor e apenas inspirado no Fastback, sem utilizar, portanto, a estrutura da picape. Isso está alinhado com o posicionamento da Fiat de que o Fastback seria apenas um exercício, sem pretensão de ganhar as ruas — mesmo a versão tida como de produção, vista em evento na fábrica, seria apenas um \”rascunho\” para o conceito.

3. Motores já estão confirmados
Os utilitários da Fiat usarão a nova família de motores Firefly. O SUV compacto baseado no Argo terá o 1.3 aspirado em suas versões de entrada e o 1.0 turbo nas mais caras — lembrando que esse motor ainda não foi lançado no Brasil (mas já existe na Europa, a gasolina) e está previsto para ter sua produção iniciada em Betim no segundo semestre deste ano. Já o SUV médio poderá usar o 1.0 turbo e, talvez, o 1.3 turbo, que também está em testes e aguarda sua produção ser iniciada.

As opções de câmbio contemplam o já famigerado manual de 5 marchas e um CVT da Aisin, também inédito por ora. É incerto se o câmbio CVT será pareado apenas ao motor 1.3 aspirado ou também aos motores turbo, ou seja, se essa opção substituirá o câmbio automático de 6 marchas que já equipa Argo, Cronos e Toro 1.8 ou se será apenas um complemento. Lembrando que os câmbios CVT são reconhecidos pela alta capacidade de transmitir conforto — as marchas são apenas simuladas, logo, esse processo deixa de existir, de maneira simplificada — e pela baixa dose de esportividade.

4. Na verdade, eles não serão SUVs
É importante dizer que os carros da Fiat se manterão longe da disputa com a Jeep. Para isso, a FCA trata os modelos italianos como CUVs ou simplesmente UVs, ou seja, são veículos utilitários, compactos, puxando mais para a linha de crossovers — logo, sem grande apelo (e capacidade) off-road. Com o lançamento da Strada e a disponibilização do E-Locker, um sistema que simula o diferencial blocante por meio do controle de estabilidade, é possível cogitar que essa tecnologia esteja presente nos carros da Fiat, mas eles não serão destinados à lama, certamente.

5. Terão \”DNA italiano\” e serão \”democráticos\”
Antônio Filosofa já declarou em mais de uma ocasião que os utilitários com a marca Fiat trarão um forte DNA italiano em seus designs e irão democratizar o acesso ao SUV (o que também faz parte do DNA da Fiat, especificamente). O que isso quer dizer só ele sabe, é claro. Mas podemos esperar que essas falas estejam relacionadas ao posicionamento dos carros.
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Como a FCA quer evitar a todo custo uma briga da Fiat com a Jeep (porque, a meu ver, eles sabem que a primeira poderia roubar uma boa parcela de vendas da segunda), podemos esperar por uma área de atuação entre o Argo Trekking e o Jeep Renegade para o A-SUV — isso daria uma faixa de preço em torno de R$ 67 mil a R$ 90 mil. Para o B-SUV, o posicionamento seria entre as versões mais caras do Renegade e as mais baratas do Compass — de R$ 110 mil a R$ 130 mil. Ou seja, eles terão preços competitivos, e isso sem esquecer de boa parte das tecnologias presentes nos Jeep e que já podem ser vistas em Argo e Cronos.

6. Ainda não se sabe muita coisa sobre o design desses carros
Atualmente, boa parte do desenvolvimento de novos modelos pode ser feita dentro das fábricas, em decorrência dos avanços tecnológicos. Isso explica o fato de estarmos relativamente próximos do lançamento desses SUVs e ainda não termos muitos flagras. Existem muitas projeções desses carros, seja considerando o Fastback ou uma miniatura, um mockup diposto na fábrica da Fiat durante um evento no ano passado (veja o tweet abaixo).

Para mim, a projeção mais equilibrada até agora é a feita pela revista Quatro Rodas. Mas, nesta semana, o Autos Segredos publicou uma projeção que vem causando polêmica, ainda mais se considerarmos as demais já vistas — muito mais agradáveis, diga-se.
https://twitter.com/JacobPaes/status/1161311230218444801?s=20
O site, que tem a projeção mais recente, nos mostra forte semelhança do A-SUV com o Argo — para-brisa, distância entre-eixos, portas, design lateral e até vidros traseiros seriam compartilhados com o hatch —, de modo que ele seria, basicamente, uma versão mais alta do Argo com apliques (mais ou menos, na mesma linha do que a Honda fez com Fit e WR-V).
O problema é que isso não bate com o mockup apresentado na fábrica da Fiat, utilizado como base na projeção do site Motor1, e com as declarações de Filosa. Apesar de o Autos Segredos ter um alto índice de acertos no que envolve a Fiat, eles também já erraram — no próprio caso da Strada, por exemplo, afirmavam no início que a picape teria os mesmos visual e interior do Mobi, o que não se mostrou verdadeiro. A esperança é que o mesmo ocorra aqui, porque é difícil enxergar o tal DNA italiano prometido na projeção que fizeram.


7. Eles serão lançados em 2021
Com a pandemia de covid-19, causada pelo novo coronavírus, fica difícil dizer se os planos serão mantidos. Mas o presidente da montadora já declarou que o A-SUV seria lançado no primeiro semestre de 2021 e o B-SUV no segundo semestre. As previsões mais otimistas diziam que o menor chegaria já no primeiro trimestre, a tempo de participar do Big Brother Brasil (😂).
O principal concorrente do \”Argão\” seria o Volkswagen Nivus, que seguirá a mesma proposta de derivação de um hatch (no caso, o Polo) e será posicionado como o SUV mais barato da marca — porém, ele contará com o diferencial de ser um SUV cupê. Já o B-SUV deverá pegar um nicho intermediário, brigando com versões mais caras de SUVs compactos (Jeep Renegade, VW T-Cross, Chevrolet Tracker e Nissan Kicks) e com as de entrada dos médios (Jeep Compass), atuando como uma espécie de HR-V da marca.
Eu estou particularmente ansioso para descobrir como a Fiat vai batizar esses carros. E aí, com base nisso tudo, arrisca algum palpite?
Este post foi atualizado em 20 de outubro de 2020 com o link para o episódio 15, no qual todas as informações sobre os SUVs foram atualizadas. Para saber mais, clique aqui.