Fiat Uno Turbo: 40 anos de um ícone

Fiat Uno Turbo europeu vermelho visto de lado

Apresentado na Europa em 1985, o Fiat Uno Turbo faz muita gente sonhar até hoje.



Há 40 anos, a Fiat lançava na Europa um dos carros mais surpreendentes a sair dos portões de sua fábrica de Mirafiori: o Uno Turbo.

Nessa época, os hatches estavam virando verdadeiros foguetinhos que alimentavam os sonhos dos jovens e entusiastas. A união de uma carroceria compacta com o desempenho de um esportivo logo deixou de ser exclusividade das marcas francesas e alemãs para chegar a Turim.

Fiat Uno Turbo vermelho em vista lateral traseira
Fiat Uno Turbo europeu tinha logo da Abarth nas rodas. (Divulgação)

Com técnica apurada, performance arrebatadora e um estilo nada convencional, o Uno Turbo i.e. foi a resposta perfeita aos rivais do continente, apresentada no fim de abril de 1985, com as vendas se iniciando em maio, logo após o Uno ter atingido o marco de um milhão de unidades vendidas na Europa.

Roberto Giolito, diretor da Stellantis Heritage, afirma: “O Uno Turbo era muito mais do que um pequeno esportivo: era um sonho alcançável, um símbolo de liberdade para toda uma geração que cresceu com o coração batendo no ritmo do turbo”.

Fiat Uno Turbo europeu vermelho visto de lado
Uno Turbo europeu foi lançado dez anos antes do brasileiro. (Divulgação)

Como era o Uno Turbo

O modelo era equipado com um motor 1.3 dotado de injeção eletrônica Bosch, ignição digital Magneti Marelli, turbocompressor IHI VL2 refrigerado a água e intercooler. O resultado: 105 cv de potência, torque de 14,7 kgfm a 3.200 rpm, velocidade máxima de 200 km/h e 0 a 100 km/h em só 8,3 s. Tudo em uma carroceria de apenas 845 kg.

O Uno Turbo “tinha garra, personalidade e aquele som inconfundível que fazia você virar quando ele passava. Era um carro que falava aos jovens, mas o fazia com uma linguagem adulta, dotada de tecnologia e inovação”, declarou Giolito.

O chassi, reforçado com barra estabilizadora e combinado com um sistema de freios com discos ventilados na dianteira, completava a configuração de um verdadeiro pequeno esportivo. A caixa de câmbio de 5 velocidades era derivada da do Ritmo 105 TC.

O painel de instrumentos analógico Veglia-Borletti ou – como opcional – completamente digital da Nippon-Seiki tinha uma profusão de indicadores: velocímetro, conta-giros, medidores de pressão e temperatura do óleo, temperatura da água, nível de combustível e, obviamente, o medidor de pressão do turbo. O “check panel” – um display que indicava o status das portas, luzes, refrigeração e lubrificação – era outra novidade absoluta no segmento compacto.

Confira outros pontos dos 40 anos de história do Fiat Uno no episódio 58 do podcast:

O visual do Uno Turbo

A caracterização era um show à parte. O hatch vinha com para-choques redesenhados, incluindo faróis de neblina integrados, saídas de arrefecimento de óleo e intercooler. As saias laterais e os arcos de roda vinham do Uno SX, enquanto a porta traseira tinha spoiler de fibra de vidro. Já as rodas de liga leve aro 13 eram combinadas a pneus 175/60 ​​de perfil baixo e traziam calotas com o escorpião da Abarth em fundo vermelho.

O interior era um exercício de esportividade elegante: veludo preto decorado com as cinco barras vermelhas do logotipo da Fiat, carpete vermelho, cintos de segurança pretos, volante de quatro raios e relógio digital de cristal líquido vermelho. Tudo coroado por um som profundo, graças ao escapamento cromado achatado.

As evoluções do Uno Turbo

Em 1986, a primeira atualização introduziu novas cores, grade e espelhos combinando, além de faixas adesivas nas laterais e a estreia de um painel digital verde mais legível. Já a linha 1987 – ano modelo 1988 – introduziu o sistema Antiskid, projetado pela AP Lockheed.

Três anos depois, veio a segunda série, mais madura e moderna. A turbina passa a ser uma Garrett T2, a potência aumenta para 116 cv e o carro passa a acelerar de 0 a 100 km/h em apenas 7,7 s.

Fiat Uno Turbo europeu da segunda série visto de frente
Segunda série trouxe uma dianteira mais estreita também para o Uno Turbo. (Divulgação)

A estética fica mais sóbria: para-choque com fio vermelho, spoiler integrado, novas rodas de quatro raios, interior mais ergonômico, bancos xadrez preto e cinza, volante em couro Momo… A versão Racing, com detalhes em cores exclusivas, letras em itálico e opcionais como teto solar, travamento remoto, lava-faróis, vidros elétricos e pintura metálica, completava o charme.

Uno Turbo no Brasil

Michele Alboreto, então piloto oficial da Ferrari de Fórmula 1, também queria experimentar o potencial do Uno Turbo em primeira mão. E isso aconteceu… no Brasil. Foi logo em 1985, em um evento especial organizado pela Fiat no circuito de Jacarepaguá.

Alboreto subiu a bordo do pequeno esportivo de Turim para fazer um teste exclusivo que repercutiu no mundo todo. Ao final, o campeão italiano não escondeu a surpresa: “É um carro divertido, sincero em suas respostas, com uma entrega turbinada que pode te dar emoções. Com mais alguns cavalos de potência, também seria perfeito na pista”. Vindo do homem que dirigiu o monoposto mais cobiçado do planeta, foi a consagração perfeita para o Uno Turbo.

Mas a história com o Brasil ainda iria mais longe.

No Brasil, o modelo virou uma lenda tal como na Europa, graças às suas inovações. (Divulgação)

Em fevereiro de 1994, a Fiat decidiu nacionalizar a proposta do Uno Turbo. Mesmo com o atraso em relação à Europa, o modelo brasileiro foi o primeiro carro de passeio do país a sair de fábrica com turbocompressor. Tal como na segunda série italiana, a turbina era uma Garrett T2, e o motor 1.3 vinha da Itália, mantendo os números comparáveis aos 2.0 da época.

No Brasil, a velocidade máxima era de 195 km/h, com 0 a 100 km/h em 9,2 s. A caixa de câmbio era redimensionada e com novos escalonamentos, a direção era hidráulica e com relação mais baixa, a carroceria era 1 cm mais baixa, a suspensão tinha ajuste mais firme e havia até uma barra que reforçava a estrutura da cabine.

Enquanto chegava ao Brasil, inclusive trazendo um curso de pilotagem para os compradores, o Uno Turbo dava adeus ao mercado europeu, em 1994 (com algumas vendas também em 1995). Por lá, ele passou o bastão para o Fiat Punto GT. Aqui, ele saiu de linha em 1996 – mesmo ano em que o Palio foi lançado.

Fiat Uno Turbo europeu da segunda série visto de trás
Uno Turbo saiu de linha em 1994 na Europa e em 1996 no Brasil. (Divulgação)

Enquanto esteve em linha, o Uno Turbo conquistou mais de 50 mil motoristas apenas na Europa, tornando-se um símbolo não apenas por seus números, mas também pelo carisma e pela capacidade de inflamar a imaginação de uma geração.

Ainda hoje, o ronco de um Uno Turbo bem conservado é capaz de chamar a atenção de qualquer um que saiba o que ele representa. O mito permanece intacto, e nos lembra de como a Fiat sabe ousar, colocando o turbo no coração de seus modelos e de seus clientes, dando vida a um ícone de liberdade e diversão que, 40 anos depois, continua rugindo.

“Quem o dirigiu se lembra dele com um sorriso. Porque certos carros nunca envelhecem: eles se tornam símbolos de uma era ou de uma geração que quer continuar sonhando”, finaliza Giolito.

Você também pode gostar do episódio 75, uma conversa com o presidente do Só Fiat Uno, o proprietário da página Uno Garagem e o Carro de Review:

Com informações de: Stellantis Heritage e os livros All The Fiats e Todos os Fiat, publicados pela marca